Um pouco de história

(Teatro Sete de Abril- Pça Coronel Pedro Osório)

Influência da Música na Literatura

Palestrantes: Arzelinda Soares Dias e Yara Bastos André Cava, clipeanas e músicas.

      A música, entre outros tantos atributos, tem o dom de preencher aquelas partes da nossa alma que anseiam por expressar alegria, tristeza, prazer e demais sentimentos. É como o amor, a música tem o dom de tocar nosso coração.

      A relação da música com a literatura e, especial com a poesia é incontestável, elas são irmãs e caminham de mãos dadas ou melhor, mãos entrelaçadas.

      Linda compôs uma bela melodia, intitulada "Linda", que escolhi para me acompanhar na leitura de um Soneto escrito por meu pai, Álvaro da Silva André, homem simples de pouca instrução, mas de muita sensibilidade. Amava a música e a literatura. Pedreiro, de dia carregava tijolos. À noite, dedilhava violão para adormecer os filhos.

        MÚSICA

Divina música que nos extasia
Notas dolentes me fazem vibrar
A alma em dor ou em alegria
Tens o dom de fazer calar.

Que poder encerras em tua magia
Que nos seduz com teu encantamento?
És divinal em tua harmonia
Acalmas dores e o sofrimento.

Junto comigo, onde estiveres
É meu desejo, é minha paixão!
Eu sei que nunca tu terás revezes...

Quero-te sempre como companheira
Terás morada no meu coração
Viverei contigo minha vida inteira.
Álvaro da Silva André

      Ms a música não surgiu assim, como hoje a conhecemos. Há milênios, antes da pré-história, o homem paleolítico usava somente a mímica para se comunicar com seus semelhantes. Não possuía a linguagem. a voz humana foi o primeiro instrumento musical que surgiu. Antes os sons guturais eram gemidos, uivos, gritos e berros. Precisar o nascimento da música é impossível. Nasceu com o mundo de forma embrionária e foi se desenvolvendo lentamente. A princípio procurando imitar a natureza através do rumorejar das fontes, do ciciar das folhas tocadas pelos ventos, dos pingos de água da chuva, do cantar da passarada, dos raios e trovões e, principalmente dos sons internos que os sacudia para a vida através do ritmo constante de um coração. Pare este, cessa a vida. Porque vida é ritmo, beleza, harmonia e através da música, da poesia e da dança o ritmo é fator fundamental.

      Diz antigo livro chinês que na alegria o homem pronuncia palavras. Não satisfeito ele as prolonga. Não bastando prolongá-las ele as modula. Não sendo ainda suficiente modulá-las, sem se dar conta gesticula e os pés se agitam. O que significa que a música, poesia e dança estão interligadas e são consideradas artes rítmicas em contraposição às plásticas ou figurativas como a ARQUITETURA, ESCULTURA E PINTURA, que são visíveis e palpáveis.

      A música é tudo de bom! Magia, encantamento, diversão... e é dada de graça para que todos possam cantar, declamar, dançar livremente. Graça divina! Meu filho diz que a música ajuda-nos a suportar a dor e faz-nos duplicar a alegria.

      Dando prosseguimento, vamos ler a opinião de alguns escritores, músicos e pensadores famosos em relação ao nosso tema de hoje sobre a arte musical:

Aristóteles- 384/332 AC- filósofo grego (aluno de Platão); a música tem tanta relação com a formação do caráter, que é necessário ensiná-la às crianças.

Shakespeare- 1564/1616 (dramaturgo e poeta inglês); O homem que não possui música no seu próprio ser é capaz de intriga, de vandalismo e de traição. Não confies nesse homem.

Beethoven- 1770/1827: A música é manifestação mais convincente do que toda sabedoria e filosofia.

Wagner- 1813/1883: A música é a linguagem universal.

Artur da Távola- 1936/2008 (escritor, professor, advogado, jornalista, radialista e político brasileiro): Música é vida interior, e quem tem vida interior, jamais padecerá de solidão.

Kurt Pahlen- 1907/2007(escritor, músico e regente): A música é um fenômeno acústico para o prosaico, um problema de melodia, harmonia e ritmo para o teórico; e o desdobrar das asas da alma, o despertar e a realização de todos os sonhos e anseios de quem verdadeiramente a ama...

São Paulo: Cantar é orar duas vezes.

      Execução de Linda ao violão da peça "Nossa Senhora", de Roberto Carlos, acompanhada pelo coro de colegas clipeanos presentes.

      Exercício musical: Vamos interagir com a música?

      Todos nós sabemos que a música tem três elementos fundamentais: melodia, harmonia e ritmo. Vamos agora trabalhar com dois deles: a melodia e o ritmo.
      compassos binários, ternários e quaternários.

Forma binária: Ci/ randa, ciran/ dinha vamos/ todos ciran/ dar...
                      Vamos/ dar a meia/ volta, volta e/ meia vamos/ dar.

Forma ternária: Oh Ceci!
Você gosta de mim, oh Ceci!
Eu também de você, oh Ceci!
Vou pedir ao seu pai, oh Ceci!
Pra casar com você, oh Ceci!

Se ele disser que sim, oh Ceci!
Vou fazer os papéis, oh Ceci!
Se ele disser que não, oh Ceci!
Vou morrer de paixão, oh Ceci!



                           PELOTAS


Cultura:

      Com a mistura étcnica que caracteriza Pelotas, não é surpreendente que seja um rico centro cultural e político, sendo conhecida como a Atenas Rio-Grandense.
      Berço e morada de inúmeras personalidades da cultura nacional, como do escritor regionalista João Simões Lopes Neto (1865-1916), autor de Cancioneiro Guasca (1910), contos Gauchescos (1912) e Lendas do Sul (1913).
      De Hipólito José da Costa - patrono da imprensa no Brasil.
      Do pintor Leopoldo Gotuzzo, cujos trabalhos ultrapassaram as fonteiras de Pelotas, conquistando prêmios e exposições até na Europa.
      De Antonio Caringi (1905-1981), escultor pelotense reconhecido internacionalmente.
      Do senador Joaquim Augusto de Assumpção, fundador do Banco Pelotense.

      Atualmente, o Centro Cultural Adail Bento Costa funciona, também, como a sede da Secretaria Municipal de Cultura, contando com duas salas de exposições (Inah d'Ávila Costa e Antonio Caringi) além do Bistrô, utilizado para eventos em geral. O prédio faz parte do patrimônio tombado pelo IPHAN e fica localizado à Praça Coronel Pedro Osório, 02.

Biblioteca:

      A Biblioteca Pública de Pelotas foi idealizada por Antonio Joaquim Dias, diretor do jornal Correio Mercantil. A primeira diretoria reuniu José Vieira da Cunha, Saturnino de Arruda, Carlos Pinto e José Roiz de Araújo. Foi inaugurada em 5 de março de 1876, em um terreno cedido pelo Visconde da Graça, contando na época com 900 volumes. Foi depois construída sede própria, na atual Praça Coronel Pedro Osório. O segundo piso da Biblioteca Pública Pelotense foi construído na gestão do prefeito Joaquim Augusto de Assumpção Júnior.

fonte: wikipedia
pesquisa: Terezinha Pasqualotto, diretora cultural.
(Museu da Baronesa- Av. Domingos de Almeida)


         Elogio a Jorge Salis Goulart

      A razão me foge, me falha a inspiração, me faltam palavras, porque todas as palavras são pouco para qualificar, enaltecer, elogiar tão ilustre figura como foi Jorge Salis Goulart- meu patrono na cadeira nº 1 da Academia Sul-Brasileira de Letras- o que eu disser neste elogio, não dirá tudo de sua inteligência, capacidade e inspiração.

VIDA E OBRA DE JORGE SALIS GOULART

      Nasceu em Bagé- Rio Grande do Sul- em 4 de setembro de 1899. Filho único do escritor Dr. Virgílio Goulart e de Dª Jandyra Salis Goulart.
      Iniciou os estudos na vila do Herval, onde aos 8 anos de idade escreveu os primeiros contos e os primeiros versos. O primeiro conto, por ele mesmo ilustrado, foi publicado no Rio de Janeiro na revista infantil "O Tico-Tico", onde também foram publicadas suas primeiras músicas, já então, com 9 anos de idade. Essas músicas faziam parte do repertório da Banda Municipal do Herval, que as executava nas festas, sendo aplaudido diante da precocidade do compositor. Aos 14 anos entrou para o Ginásio Pelotense na cidade de Pelotas onde passou a residir.
      Aluno brilhante, formou-se na Faculdade de Direito em 1922.
      Casou aos 23 anos, na cidade do Rio de Janeiro com a poetisa Walkyria Neves de Salis Goulart.
      Salis Goulart foi poeta, romancista, conferencista, prosador, publicitário, filósofo e professor, aliando ao talento notável e à cultura sólida e vastíssima um caráter perfeito e um coração todo ternura.
      Faleceu na cidade de Pelotas aos 20 de setembro de 1934.

      Cargos que ocupou:
Membro do Instituto Histórico e Geográfico do RGSul;
Fazia parte da OAB;
Catedrático na Faculdade de Direito de Pelotas;
Professor no Ginásio (hoje Colégio) Pelotense;
Professor de francês e inglês na Escola de Comércio;
Dirigiu os jornais "Diário Popular" e "Diário Liberal". Foi redator do "Jornal da Manhã", um dos maiores jornalistas brasileiros;
      Orador excepcional, falava de improviso.
      Colaborou em diversos jornais e revistas no Rio de Janeiro, outros estados brasileiros e no estrangeiro.
      Deixou várias obras em prosa e poesia.
      Eis algumas de suas obras:

CONFISSÕES- prosa poética- na parte denominada SÍMBOLOS, ele escreve, sobre Cupido e o amor: "Os antigos representavam o amor na figura de Cupido carregado de flechas. Mas não seria muito mais acertado que, em lugar de armas que produzem a morte, ele somente trouxesse asas que alçam para a Vida?"
      Sobre a Vaidade ele diz: "Por que motivo andas tu a desejar sempre que o teu nome apareça escrito em toda parte, em todos os periódicos, no afã de quem procura uma vida mais duradoura e mais ruidosa? Abandona essa vaidade que te cega. Lembra-te que o teu nome se há de estampar com caracteres muito maiores no mármore do teu túmulo!"
      Ainda como poeta simbolista:" Na floresta, os deuses suspendiam as suas harpas vibráteis aos galhos das árvores e a selva toda era uma harmonia indizível quando o zéfiro sussurrava, de manso, entre as folhas. Não te fascine a beleza do símbolo. Evita que uma simples comoção faça estremecer a tua alma serena. Olha que as harpas eólias se espedaçam ao furor da tempestade."

CHUVA DE ROSAS- poesia- No prefácio deste livro, João Ribeiro, da Academia Brasileira de Letras , escreve: "Certamente, só um poeta, um pintor delicado, um artista enfim como vós sois, poderia achar a expressão a um tempo etérea e sensível para coisas tão indefinidamente suttis... É suavemente fino, espiritual e luminoso, e inculca uma ternura e sensibilidade que me parecem raras na poesia dos nossso poetas."

      "Põe na terra a semente divina da esperança
        Para um dia talvez nas colheitas futuras
        O teu desejo de bonança
        Em flores renascer
        E após frutificar."
       Sobre esta obra em "Mundo Literário" foi escrito: "Os lindos versos do Sr. Jorge Salis Goulart representam um hino à mais poética das flores, à inebriante flor vernal, que é um coração sangrando aromas..."
      E mais, segundo Manuel Benavuente, de Paysandú- Uruguay: "Se advierte en esta nueva obra del autor de "Auroras e Poentes" que Salis Goulart ha encontrado definitivamente el filón de su personalidad y lo explota con el éxito que ya hacia suponer su primer libro. Poesía dulce, suave, llena de místicos arrobamientos, pero sin salirse nunca de lo viril, es lo que se encuentra en "Chuva de Rosas".

AURORAS E POENTES- poesia- nesta obra são incluídos trabalhos do autor quando tinha 11 anos de idade. Sobre Auroras e Poentes não se precisa comentar mais nada, basta o que disse João Pinto da Silva, sintetizando o pensamento sobre toda a obra de Jorge Salis Goulart: "Há no seu temperamento, na sua inteligência, elementos de primeira ordem com os quas triunfará mais hoje mais amanhã sem precisar de elogio de ninguém."

ALMA VIVA DO RIO GRANDE- poemas regionais- Aí Salis Goulart fala da miscigenação, da etnia na formação do povo brasileiro, em especial, dos gaúchos. Tudo isso é citado no poema BRASIL-CARNAVAL e começa assim:
" Carnaval!
Ribombos, candomblés, bumba-meu-boi.
Anda na barafunda do barulho
O Carnaval do Brasil!
A Pindorama veste um traje, salpicado de cores:
branco e vermelho, etíope e amarelo,
na arlequinagem das raças..."
      Referindo-se a Pelotas, Salis Goulart escreve:
"Os índios que andavam na serra dos Tapes,
correndo os rebanhos do gado bravio,
............................................................
Fizeram canoas de couro fragilíssimas,
E levando nos olhos
A eterna visão da serra dos Tapes,
Passaram o rio
Em canoas de couro,
Pequenas,
Fragilíssimas,
Pelotas."

      No livro COLHEITAS DE OURO, Salis Goulart nos deixa o poema Panteísmo.

PANTEÍSMO

Quem me dera possuir a vida como a desta
manhã primaveril, clara, forte, gloriosa,
em que o verde, o ouro, o azul, fazem a branda festa
da dor- canção vernal, úmida e luminosa!

Ser árvore, ser pasto e nuvem, como anelo!
Já me sinto a cantar pelo mundo risonho:
Água! Eu iria ao céu num fluído e tênue elo!
Rosa! Eu seria amor, perfume, beijo, sonho!

Ser fumo azul que vence o véu do azul e esvoaça,
simbolizando o lar, a vida campesina:
da casinha distante a alvinitente graça!
que em místico fervor o coração abrasa.

Eu sinto que me eleva a alma como a desta
manhã primaveril, de pagã sinfonia,
em cujo seio o céu e o mar cantam na festa
que vai entoando alegre a minha fantasia.

Sou ritmo, surto e azul, nuvem, sombra e frescor,
árvore que protege o viajor perdido!
Olho o infinito céu num infinito amor
e canto na esperança e adormeço no olvido.

O mundo todo está vibrando em meu caminho
conheço o amor do verme e a vitória dos sóis
minh´alma inteira está tremendo como um ninho,
onde geme o lirismo em flor dos rouxinóis.

Outras obras de Salis Goulart:
      História da Minha Terra- onde expõe com simplicidade a história do Brasil, do Rio Grande do Sul e de Pelotas;
      Poemas para nós mesmos- prosa;
      O classicismo e o romantismo- prosa;
      O Partido Liberal e o seu programa- política;
      A Vertigem- romance;
      Le calendrier decimal (universel et perpetuel) com referências honrosas da "Liga das Nações", escrito em francês;
      Prática do Processo Civil e Comercial- na área do Direito;
      O Sentido da Evolução (obra póstuma), consagrada pela Sobrone, em Paris- campo da Filosofia.

      HOMENAGENS RECEBIDAS PELO AUTOR:

Patrono da cadeira nº 1 da Academia Sul-Brasileira de Letras;
Patrono da cadeira nº 27 da Academia Rio Grandense de Letras;
Patrono de uma cadeira na Academia de Trovadores da Fronteira Sudoeste do Rio Grande do Sul, em Uruguaiana;
Grêmio Literário Salis Goulart- Rio de Janeiro;
Seu nome foi dado a um Grupo Escolar, em Bagé;
A uma escola municipal; ao Instituto e ao Ginásio Salis Goulart; à Escola de Ensino Fundamental Dr. Jorge Salis Goulart, todos na cidade de Pelotas;
Em Porto Alegre e em Pelotas, ruas com seu nome;
Bibliotecas Jorge Salis Goulart: no Colégio Pelotense e no Grupo Escolar Mariana Eufrásia;
Salas com seu nome, existem no Grupo Escolar Brum de Azeredo, no Cassiano do Nascimento e na Faculdade de Direito de Pelotas;
Monumento na Praça Coronel Pedro Osório; placa de bronze em seu túmulo em nome de nossa cidade e muitas outras homenagens merecidas por esse ilustre cidadão.
   
      Salis Goulart tinha duas paixões principais: Walkyria, sua esposa, e a música.
      A 5ª SINFONIA DE BETHOVEN era a sua música preferida e, para Walkyria, dedicou o livro "Confissões" e muitos outros poemas como o que segue em que ela, a esposa, é comparada a SCHEHERAZZADE:

             PARA EU SONHAR

Conta-me histórias lindas, Scheherazzade,
Como um cofre de jóias reluzente,
Que a fantasia é mais do que a verdade
Quando ilumina o coração da gente.

Deixa cair da tua mocidade,
No meu triste regaço de descrente,
As pedras preciosas da piedade
Que brilham mais que as pérolas do Oriente.

E quando a noite vier, coalhada de astros,
Mostrar-me-ás deslumbradoras ilhas,
Rendilhadas de velas e de mastros.

E eu serei mais feliz que Sindbad,
Rico de lendas e de maravilhas,
Na pátria dos teus contos, Scheherazzade.

      Para encerrar, quero repetir o que foi dito no início de minha oração:
      A razão me foge, me falha a inspiração, as palavras são poucas para enaltecer e elogiar a figura ilustre do Dr. Jorge Salis Goulart, meu  Patrono, graças a Deus.
Pelotas, 8 de maio de 2008.
Marísia de Jesus Ferreira Vieira

       

Poesia de autoria da clipeana Vilma Ávila Vianna, em alusão ao Dia Nacional da Consciência Negra.
Entregue em visita ao Clube Cultural Fica Ahi, de Pelotas, em 12/12/2010

                               Vinte de Novembro

Os canaviais tremulam frementes nas manhãs claras e quentes
do nordeste agreste.
Navios aportam cruzando o oceano, vindos do continente africano.
Nos barcos infectados, transportado como gado, o bravo vem trabalhar- é escravo.

Aqualtune, a princesa, desfila no leilão sua nobreza.
Vendida como escrava, nas roupas dos brancos travestida,
vê-se num relance, de sua realeza ser despida.

Amontoado, o negro na senzala jogado, sofre de saudade e dor
sob o jugo do feitor.
No tronco, tratado a chicote e sal, não mais homem, animal.
Alguns morrem, outros fogem e formam- se os Quilombos.

Embrenham-se na escuridão da mata, organizam-se ocultos
Na folhagem verde prata, plantam e colhem, vivem
E crescem

Nos Palmares nasce, senhor de si, livre e forte,
Zumbi, o duende, o fantasma, o espírito. Entregue aos jesuítas, Francisco é chamado
a aprender português e latim é obrigado.
Mas o neto de Aqualtune é príncipe e guerreiro assim, inquieto,
foge e volta às selvas.

Os canaviais tremulantes do nordeste, agreste
Precisam dos fortes lombos que agora se escondem
nos Quilombos.
Impossível a paz, a guerra se faz. Zumbi o fantasma, o duende,
o valente
o duro e firme combatente
resiste ainda e luta.
Na contenda, cede, cai e ao morrer se faz lenda.

Seu espírito, no entanto, domina as eras, estanca o pranto
observa e orienta seu povo.
O que não viu em vida, vê agora,
vê de novo nos filhos, dos filhos, dos seus filhos
que crescem como iguais
galgando os postos, que não mais
em razão da cor lhes são negados.

Nas tardes claras e quentes do nordeste agreste
Navios aportam de todos os lugares
os herdeiros de Zumbi dos Palmares
Sob a brisa dolente,
os canaviais tremulam ao sol
o violáceo farol
de sua doce cana quente...
Vilma Ávila Vianna


Magda Costa (Circe de Morais Palma Monteiro)

      Magda nasceu em Porto Alegre em 1913 e faleceu em Pelotas em 1992.
      Quem foi essa personagem?
      Uma mulher guerreira e culta. Idealizadora da Academia Sul Brasileira de Letras (Casa de Cultura João Simões Lopes- ata de fundação). EScritora premiada de numerosos livros acadêmicos e literários, peças teatrais radiofonizadas. Dinâmica, criativa e acima de tudo, dona de um generoso coração. Não se restringiu às manifestações artísticas e intelectuais, preocupando-se também com a sorte dos desvalidos, homens e animais.
      Criou o Albergue Noturno em 1957, hoje conhecido como Albergue Municipal Adolfo Fetter, um de seus benfeitores quando Prefeito da cidade. Era uma casa velha, desativada, onde havia funcionado a penitenciária. Fica situada à rua Padre Felício, 320. Corria sempre atrás de subsídios para a manutenção da "Casa" e dos seus dependentes. Passou anos e anos buscando recursos. Conviveu com a miséria física e moral dos excluídos, sem tentar se promover..
      Magda foi a primeira mulher no país a cursar Escola de Detetives, penetrando num meio exclusivamente masculino para poder escrever contos policiais. Corajosa, transgressora. São dela as seguintes peças radiofonizadas em Pelotas:
O assassinato de Dona Heloísa, O inquilino da rua 17, O crime da rua Buarque de Macedo, O Avião Sinistro, O detetive moribundo, todos da década de 40, entre outros.
      Apesar de sua vasta produção literária entre romances, contos, quatro volumes de Ensaios sobre Filosofia, História da Ordem dos Advogados do Brasil, A Maçonaria e a Independência do Brasil, nada foi encontrado. TEriam os ratos do escritor Dyonélio Machado os guardado?
Eis uma sugestão: Vamos procurá-los?
(palestra de Yara Cava, em 24/10/11)


            Castro Alves

       No dia 14 de março comemorou-se o aniversário do poeta baiano, nascido em 1847 e falecido em 1871, aos 24 anos. Mais conhecido por seus poemas a favor da abolição dos escravos, Navio Negreiro e Vozes d'África era também um poeta lírico, sendo que sua poesia enquadra-se entre o romantismo clássico e o ultrarromantismo. O texto abaixo mostra toda sua capacidade de descrição e nos faz antever com perfeição a cena descrita:

                A Menina Atrevida

          Ela tem uma graça de pantera
      No andar bem comportado de menina
No molejo em que vem, sempre se espera
      Que de repente ela lhe salte em cima

A mim me enerva o ardor com que ela vibra

      E a motiva desde de manhã
Como é que pode, digo-me com espanto.
Postado por: Vilma Ávila Vianna

(Pelotas- patrimônio cultural do RS)

Poeta pelotense: LOBO DA COSTA
Poema: NA CELA

Talvez tu leias meus versos
Ao longe onde quer que estejas
E neles, de manso vejas
Uns traços de quem chorou...
Como do fúnebre arbusto,
No triste medroso galho,
Treme uma gota de orvalho,
Depois que a noite passou!

Talvez tu leias... e saibas
Do meu infortúnio a mágoa,
E os olhos bem rasos d'água
Te fiquem, por compaixão!
E procures no silêncio
Da tua tristonha herdade
Abafar uma saudade,
Que nasce do coração!

Mas, se souberes que a parca
Roçou-me a fronte já fria,
Uma lágrima sombria
Deixa dos olhos rolar...
Mas não fales... não blasfemes,
Contra os rigores da sorte:
Pois bem sabes, só a morte
Nos podia separar!
(publicado na página do CLIPE, jornal Diário da Manhã, em 12/6/11)
(Teatro Guarany- Rua Lobo da Costa-849)

Luís Vaz de Camões


Luís Vaz de Camões (Lisboa[?], c. 1524 — Lisboa, 10 de junho de 1580) foi um célebre poeta de Portugal, considerado uma das maiores figuras da literatura em língua portuguesa e um dos grandes poetas do Ocidente.
Pouco se sabe com certeza sobre a sua vida. Aparentemente nasceu em Lisboa, de uma família da pequena nobreza. Sobre a sua infância tudo é conjetura mas, ainda jovem, terá recebido uma sólida educação nos moldes clássicos, dominando o latim e conhecendo a literatura e a história antigas e modernas. Pode ter estudado na Universidade de Coimbra, mas a sua passagem pela escola não é documentada. Frequentou a corte de Dom João III, iniciou a sua carreira como poeta lírico e envolveu-se, como narra a tradição, em amores com damas da nobreza e possivelmente plebeias, além de levar uma vida boémia e turbulenta. Diz-se que, por conta de um amor frustrado, se autoexilou em África, alistado como militar, onde perdeu um olho em batalha. Voltando a Portugal, feriu um servo do Paço e foi preso. Perdoado, partiu para o Oriente. Passando lá vários anos, enfrentou uma série de adversidades, foi preso várias vezes, combateu bravamente ao lado das forças portuguesas e escreveu a sua obra mais conhecida, a epopeia nacionalista Os Lusíadas. De volta à pátria, publicou Os Lusíadas e recebeu uma pequena pensão do rei Dom Sebastião pelos serviços prestados à Coroa, mas nos seus anos finais parece ter enfrentado dificuldades para se manter.
Logo após a sua morte a sua obra lírica foi reunida na coletânea Rimas, tendo deixado também três obras de teatro cómico. Enquanto viveu queixou-se várias vezes de alegadas injustiças que sofrera, e da escassa atenção que a sua obra recebia, mas pouco depois de falecer a sua poesia começou a ser reconhecida como valiosa e de alto padrão estético por vários nomes importantes da literatura europeia, ganhando prestígio sempre crescente entre o público e os conhecedores e influenciando gerações de poetas em vários países. Camões foi um renovador da língua portuguesa e fixou-lhe um duradouro cânone; tornou-se um dos mais fortes símbolos de identidade da sua pátria e é uma referência para toda a comunidade lusófona internacional. Hoje a sua fama está solidamente estabelecida e é considerado um dos grandes vultos literários da tradição ocidental, sendo traduzido para várias línguas e tornando-se objeto de uma vasta quantidade de estudos críticos.


                RUI BARBOSA



SINTO VERGONHA DE MIM

Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.

Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o "eu" feliz a qualquer custo,
buscando a tal "felicidade"
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.

Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos "floreios" para justificar
atos criminosos,
a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre "contestar",
voltar atrás
e mudar o futuro.

Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...

Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.

Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo brasileiro!


***

"De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto".

(Rui Barbosa)