quarta-feira, 23 de março de 2011

Sonho de Princesa

      Chamava atenção aquela fila de senhoras e senhores, elegantes e alegres, na calçada de uma das principais ruas da cidade, naquele horário de um verão tórrido, escaldante! O relógio indicava quinze horas e o sol, recém saindo da vertical, quase não marcava sombras. Esgueirando-se pelas paredes, procuravam em vão uma nesga de refrigério junto aos prédios, enquanto tagarelavam alegres num crescendo de vozes e risos. Bonito de ver! De ouvir! De sentir!
      Mas... o entusiasmo logo foi esmorecendo. Por que os encarregados não abriam a porta da Biblioteca Municipal de Educação, conforme o combinado? A chefe do grupo pediu paciência: houve algum imprevisto, vamos aguardar? Uma senhora do grupo, sorrateira, foi à procura de outro local para a realização do encontro, já que alguns colegas, delicadamente, foram se retirando. Voltou sorridente. O bar da esquina estava à disposição.
      Unidos se dirigem para o local onde são recebidos com gentileza pelo dono e funcionários que demonstram satisfação em acolher o pequeno grupo do Centro Literário de Pelotas. De imediato são encaminhados para uma peça  no interior, onde cadeiras e mesas empilhadas esperavam a freguesia. Uma escada unia o térreo ao andar superior, local da cozinha. Acomodam-se e dão início ao encontro.
      Súbito o aroma forte de fritura invade o ambiente. Estariam empanando guisado de letras para deliciosos petiscos? Um funcionário desce com uma grande bandeja de pastéis. Aguça o paladar.A mente, no entanto, mergulha nos problemas do CLIPE, referente ao espaço físico que o Centro Literário ainda não possui.
      Dentro em breve nossa Princesa estará completando radiosa primavera de 20 anos na potência máxima, ou seja 200 anos de vida. Seus filhos dela se orgulham e com razão, uma cidade que sempre foi próspera, valorosa, vaidosa, cheia de encantos mil! Seus primeiros filhos a enfeitaram de jóias raras e perenes como o Sete de Abril, Prefeitura, clubes Comerciais e Caixeiral, Santa Casa, Banco do Brasil, Escola de Agronomia e tantas outras jóias de uma Princesa refinada e culta que ao correr dos anos vem ampliando seus tesouros, enriquecendo seu patrimônio cultural.
      Pelotas, hoje como ontem, celeiro de intelectuais, artistas, operários, gente hospitaleira, está vivenciando fase desconfortável em relação a vários setores. Nossa cidade, dona da linda Praça Coronel Pedro Osório, onde anualmente acontece a Feira do Livro, pelotenses apresentam suas obras junto aos mais renomados e seletos escritores do mundo. Por isto, Pelotas necessita e merece lhe seja presenteada uma Casa de Cultura a exemplo de outras pequenas cidades do interior. Até "Ribeirão do Tempo", cidade fictícia que a novela da Rede Record apresenta às 22 horas, possui a sua.
      Para que os festejos da Cidade bi-centenária se realizem com Pompas e Circunstâncias, unamo-nos nesse ideal. Por mais difícil que seja uma situação temos que acreditar em nossos sonhos e não desistir nunca, lutando até o último momento! Nós clipeanos vamos completar 24 anos de intensa atividade, sempre com muito sucesso em apresentações literárias individuais ou coletivas. Anualmente lançamos uma nova Coletânea e participamos, também, de muitas outras em concursos realizados tanto no Brasil como além das fronteiras. No entanto estamos na rua, vagamos sem ninho, sem um local permanente onde possamos nos reunir, para estudo e discussões literárias e onde nossos livros estejam à mão. Atualmente nosso patrimônio encontra-se em depósito da Prefeitura.
      Pelotas, mereces ter uma Casa de Cultura, realizar o sonho acalentado e adiado há tanto tempo! Que a chispa da boa vontade de teus dirigentes, muitos dignos representantes do nosso povo, consiga concretizar este sonho e acender a vela do aniversário junto à luz de teu próprio brilho, Princesa do Sul, "Ex Capital da Cultura!"
Yara Bastos André Cava

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